Arquivo da categoria Comunidade Emanuel

Porfsweb

aDeus, Steven Labat

Os caminhos do Senhor são assim mesmo: insondáveis, por vezes até mesmo incompreensíveis – sem a fé, claro.

O Pe Steven Labat, de 32 anos, era padre da Comunidade Emanuel há apenas um ano – egípcio, do Cairo, tinha sido ordenado pela diocese de Paris.

No passado sábado, foi encontrado morto no monte Sinai – na passada quinta-feira terá, com amigos, começado a escalar o monte para de lá contemplar o pôr e o nascer do sol… segundo a polícia local, não terá cometido nenhuma imprudência – terá tido um ataque cardíaco e caiu… foi um acidente, uma queda, neste caso mortal.

Oriundo de uma família abastada, tinha estudado direito e pensava seguir uma carreira artística, como alguns membros da sua família; aos 19 anos, sentiu o apelo do Senhor a “tornar-se pescador de homens”, e disse sim.

Fez grande parte do seu percurso de seminarista na Bélgica, onde a Comunidade Emanuel tem uma de várias casas de formação de seminaristas, e, aos 31 anos, foi ordenado padre. Desde então que estava no Cairo, na paróquia de Caint-Cyrille onde, para além dos trabalhos próprios da paróquia e da Comunidade Emanuel, trabalhava muito com jovens e no acompanhamento dos presos na prisão local.

No Cairo, os irmãos da Comunidade Emanuel estão devastados – era o primeiro padre da comunidade no Egipto, e uma grande esperança, depois de 20 anos de implantação no país. Os sonhos e os projectos de futuro, multiplicavam-se. Aos olhos do mundo, é um autêntico desastre, mas Deus sabe o que faz – declarou o responsável dos padres para a Europa e Médio-Oriente.

Partilhamos convosco um vídeo que ele gravou e produziu com um cântico do Emanuel, “Mais perto de ti, Senhor”: https://www.youtube.com/watch?v=ecMRNQofIrA

Porfsweb

Fórum 2022 – Na força do Espírito – emissão online de sábado

Programa completo em https://www.comunidade-emanuel.pt/forum/

Este ano, este evento anual proposto pela Comunidade Emanuel será em Coimbra, no Salão Paroquial da igreja de São José. Claro que poderá acompanhar todas as atividades online, aqui, a partir do YouTube – no entanto, teríamos imenso gosto que pudesse estar presencialmente conosco, no Salão de São José, em Coimbra.

O tema – “Na força do Espírito” – será desenvolvido por um irmão belga da comunidade, o Jean-Luc Moens, que até há poucos meses era também o Moderador Internacional da Charis. Contaremos ainda com a presença do bispo de Coimbra, D. Virgílio, que nos virá dar uma perspetiva de “Como é que o Espírito Santo conduziu a Igreja desde o Concílio Vaticano II”, e da Ir. Goreti, uma doroteia, que nos dará pistas concretas de como “Viver do Espírito Santo no quotidiano”.

Transmissão no sábado: https://youtu.be/x6lD3wo9rn0
Transmissão de Domingo: https://youtu.be/cEOPnZNx41M

Porfsweb

Partiu Hervé Marie Catta

Comunicamos a todos os nossos amigos que o n osso irmão Hervé Marie Catta entrou na luz de Deus na passada sexta-feira santa, 15 de abril de 2022.

Marido de Martine Catta e pai de 3 filhos, Hervé Marie dedicou a sua vida à evangelização, mesmo quando limitado ao seu quarto de hospital.

Veio várias vezes a Portugal, ao longo dos últimos 30 anos: falou em várias Assembleias do RCCP e deu frequentemente formação comunitária nos nossos encontros mensais.

Damos graças a Deus pela vida de Hervé Maria!

O funeral terá lugar na quinta-feira, 21 de abril, em Locarn (Côtes d’Armor), seguido de uma eucaristia às 14h30.

Porfsweb

A COMUNHÃO COM O CORPO E O SANGUE DE CRISTO – 3ª Pregação da Quaresma 2022

“Refletir sobre a Eucaristia é como ver escancarar-se diante de nós, à medida que avançamos, horizontes sempre mais vastos que se abrem um sobre o outro, a perder de vista. O horizonte cristológico da comunhão que contemplamos até aqui se abre, de fato, sobre um horizonte trinitário. Em outras palavras, por meio da comunhão com Cristo, nós entramos em comunhão com toda a Trindade.”

Fr. Raniero Cantalamessa, OFMCap. – Terceira Pregação, Quaresma de 2022

III Pregação da Quaresma do cardeal Cantalamessa

Em nossa catequese mistagógica sobre a Eucaristia ‒ após a Liturgia da Palavra e a Consagração ‒, chegamos ao terceiro momento, o da comunhão. Este é o momento da Missa que mais claramente expressa a unidade e a igualdade fundamental de todos os membros do povo de Deus, abaixo de qualquer distinção de posição e ministério. Até então, a distinção dos ministérios é visível: na liturgia da Palavra, a distinção entre a Igreja que ensina e a Igreja que aprende; na consagração, a distinção entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio universal. Na comunhão não há distinção. A comunhão recebida pelo simples batizado é idêntica à recebida pelo sacerdote ou pelo bispo. A comunhão eucarística é a proclamação sacramental de que a koinonia vem em primeiro lugar na Igreja e é mais importante que a hierarquia.

Reflitamos sobre a comunhão eucarística a partir de um texto de São Paulo:

O cálice da bênção, que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? E o pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo? Porque há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão (1Cor 10,16-17).

A palavra “corpo” recorre duas vezes nos dois versículos, mas com um significado diverso. No primeiro caso (“o pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo?”), indica o corpo real de Cristo, nascido de Maria, morto e ressuscitado; no segundo (“somos um só corpo”), indica o corpo místico, a Igreja. Não se podia dizer de maneira mais sucinta e mais clara que a comunhão eucarística é sempre comunhão com Deus e comunhão com os irmãos; que nela há uma dimensão, por assim dizer, vertical uma dimensão horizontal. Partamos da primeira.

A Eucaristia comunhão com Cristo

Busquemos aprofundar qual gênero de comunhão se estabelece entre nós e Cristo na Eucaristia. Em João 6,57, Jesus diz: “Como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também o que comer de mim viverá por mim”. A preposição “por” (em grego, dià) tem aqui valor causal e final; indica tanto um movimento de proveniência e um movimento de destinação. Significa que quem come o corpo de Cristo vive “dele”, isto é, por causa dele, em virtude da vida que provém dele, e vive “em vista dele”, isto é, para sua glória, seu amor, seu Reino. Como Jesus vive do Pai e para o Pai, assim, comungando do santo mistério do seu corpo e do seu sangue, nós vivemos de Jesus e para Jesus.

É, de fato, o princípio vital mais forte que assimila a si o menos forte, não vice-versa. É o vegetal que assimila o mineral, não vice-versa; é o animal que assimila tanto o vegetal quanto o mineral, não vice-versa. Assim, agora, no nível espiritual, é o divino que assimila a si o humano, e não vice-versa. Enquanto que, em todos os outros casos, é aquele que come quem assimila a si o que come, aqui, aquele que é comido é quem assimila a si quem o come. A quem se aproxima para recebê-lo, Jesus repete o que dizia a Agostinho: “Não me transformarás em ti, mas te transformarás em mim”[1].

Um filósofo ateu afirmou: “O homem é o que come” (F. Feuerbach), querendo dizer que no homem não existe uma diferença qualitativa entre matéria e espírito, mas que tudo se reduz ao componente orgânico e material. Um ateu, sem saber, deu a melhor formulação de um mistério cristão. Graças à Eucaristia, o cristão é realmente o que come! Já escrevia, há muito tempo, São Leão Magno: “A nossa participação no corpo e no sangue de Cristo não tende a outra coisa senão a fazer com que nos tornemos o que comemos”[2].

Na Eucaristia, não há, portanto, apenas comunhão entre Cristo e nós, mas também assimilação, a comunhão não é apenas união de dois corpos, de duas mentes, de duas vontades, mas é assimilação ao único corpo, à única mente e vontade de Cristo. “Quem se une ao Senhor, torna-se com ele um só espírito” (1Cor 6,17).

Aquela da alimentação – do comer e do beber – não é a única analogia que temos da comunhão eucarística, ainda que insubstituível. Há algo que ela não pode expressar, como não pode a analogia da comunhão entre a videira o ramo: são comunhões entre coisas, não entre pessoas. Comungam, mas sem sabê-lo. Gostaria de insistir sobre uma outra analogia que pode nos ajudar a entender a natureza da comunhão eucarística enquanto comunhão entre pessoas que sabem e querem estar em comunhão.

A Carta aos Efésios diz que o matrimônio humano é um símbolo da união entre Cristo e a Igreja: “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne. Este mistério é grande – eu digo isto com referência a Cristo e à Chiesa!” (Ef 5,31-33). A Eucaristia ‒ para usar uma imagem audaz, mas verdadeira ‒ é a consumação do matrimônio entre Cristo e a Igreja, e uma vida cristã sem a Eucaristia é um matrimônio ratificado, mas não consumado. No momento da comunhão, o celebrante exclama: ” Felizes os convidados para a Ceia do Senhor.” (Beati qui ad coenam agni vocati sunt) e o Apocalipse – do qual a frase é tirada – diz ainda mais explicitamente: “Felizes os convidados para a ceia das bodas  do Cordeiro” (Ap 19,9).

Agora ‒ sempre segundo São Paulo ‒ a consequência imediata do matrimônio é que o corpo (isto é, a pessoa toda) do marido se torna da esposa, e vice-versa, o corpo da esposa se torna do marido (cf. 1Cor 7,4). Isto significa que a carne incorruptível e doadora de vida do Verbo encarnado se torna “minha”, mas também a minha carne, a minha humanidade, torna-se de Cristo, é apropriada por ele. Na Eucaristia, nós recebemos o corpo e o sangue de Cristo, mas também Cristo “recebe” o nosso corpo e o nosso sangue! Jesus, escreve Santo Hilário de Poitiers, assume a carne daquele que assume a sua[3]. Ele nos diz: “Toma, isto é o meu corpo”, mas também podemos dizer-lhe: “Toma, isto é o meu corpo”.

Busquemos entender as consequências de tudo isso. Em sua vida terrena, Jesus não fez todas as experiências humanas possíveis e imagináveis. Para começar, foi um homem, não uma mulher: não viveu a condição de metade da humanidade; não era casado, não experimentou o que significa estar unido por toda a vida a uma outra criatura, ter filhos, ou, pior, perder filhos; morreu jovem, não conheceu a velhice…

Mas agora, graças à Eucaristia, ele faz todas essas experiências. Vive na mulher a condição feminina, no enfermo, a enfermidade, no idoso, a velhice, no emigrante a precariedade, no bombardeado o terror… Não há nada em minha vida que não pertença a Cristo. Ninguém pode dizer: “Ah, Jesus não sabe o que significa ser casado, ser mulher, ter perdido um filho, estar doente, ser idoso, ser uma pessoa de cor!”. O que Cristo não pôde viver “segundo a carne”, vive e “experimenta” agora como ressuscitado “segundo o Espírito”, graças à comunhão esponsal da Missa. Tinha compreendido o motivo profundo disso Santa Isabel da Trindade, quando escrevia para sua mãe: “A esposa pertence ao esposo. O meu (Esposo) me tomou. Quer que eu seja para ele um acréscimo de humanidade”[4].

Que inesgotável motivo de estupor e consolação, pensar que a nossa humanidade se torna a humanidade de Cristo! Mas também, que responsabilidade tudo isso! Se os meus olhos se tornaram os olhos de Cristo, a minha boca, a de Cristo, eis o motivo para não permitir ao meu olhar se deter em imagens lascivas, à minha língua, não falar contra o irmão, ao meu corpo, não servir como instrumento de pecado. “Poderia eu fazer dos membros de Cristo membros de uma prostituta?”, escrevia aterrorizado São Paulo aos Coríntios (1Cor 6,15).

Todavia, ainda não é tudo; falta a parte mais bonita. O corpo da esposa pertence ao esposo; mas também o corpo do esposo pertence à esposa. Do dar, deve-se passar imediatamente, na comunhão, ao receber. Receber nada menos do que a santidade de Cristo! Onde se atuará, concretamente, na vida do fiel, aquela “maravilhosa troca” (admirabile commercium) de que fala a liturgia, se não se atua no momento da comunhão?

Aí temos a possibilidade de dar a Jesus os nossos farrapos e receber dele o “manto da justiça” (Is 61,10). De fato, está escrito que ele “se tornou para nós, da parte de Deus, sabedoria, justiça, santificação e redenção” (cf. 1Cor 1,30). O que ele se tornou “por nós” nos é destinado, pertence-nos. “Pois – escreve Cabasilas – como não pertencemos mais a nós mesmos, mas a Cristo que nos readquiriu a um alto preço (cf. 1Cor 6,20), daí segue-se que o que é de Cristo nos pertence, é mais nosso do que aquilo que provém de nós”[5]. Só precisamos lembrar de uma coisa: nós pertencemos a Cristo por direito, ele nos pertence pela graça!

É uma descoberta capaz de dar asas à nossa vida espiritual. Este é o golpe de audácia da fé, e deveríamos rezar a Deus que não nos permita morrer sem antes tê-lo realizado.

A Eucaristia, comunhão com a Trindade

Refletir sobre a Eucaristia é como ver escancarar-se diante de nós, à medida que avançamos, horizontes sempre mais vastos que se abrem um sobre o outro, a perder de vista. O horizonte cristológico da comunhão que contemplamos até aqui se abre, de fato, sobre um horizonte trinitário. Em outras palavras, por meio da comunhão com Cristo, nós entramos em comunhão com toda a Trindade. Em sua “oração sacerdotal”, Jesus diz ao Pai: “Que eles sejam um, como nós somos um. Eu neles e tu em mim” (Jo 17,23). Aquelas palavras: “Eu neles e tu em mim”, significam que Jesus está em nós e que em Jesus há o Pai. Por isso, não se pode receber o Filho sem receber, com ele, também o Pai. A palavra de Cristo: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9), significa também “quem me recebe, recebe o Pai”.

O motivo último disso é que Pai, Filho e Espírito Santo são uma única e inseparável natureza divina, são “um”. Escreve, a este propósito, Santo Hilário de Poitiers: “Nós estamos unidos a Cristo, que é inseparável do Pai. Ele, mesmo permanecendo unido ao Pai, permanece unido a nós; assim também nós chegamos à unidade com o Pai. De fato, Cristo está no Pai conaturalmente, enquanto dele gerado; mas, de certo modo, também nós, por meio de Cristo, estamos conaturalmente no Pai. Ele vive em virtude do Pai e nós vivemos em virtude da sua humanidade”[6].

O que se diz do Pai vale também para o Espírito Santo. Na Eucaristia, tem-se uma réplica sacramental do que aconteceu na vida terrena de Cristo. No momento do seu nascimento terreno, é o Espírito Santo quem doa Cristo ao mundo (Maria concebeu por obra do Espírito Santo!); no momento da morte, é Cristo quem doa ao mundo o Espírito Santo (morrendo, “entregou o Espírito”). De forma semelhante, na Eucaristia, no momento da consagração, é o Espírito Santo que nos doa Jesus (é pela ação do Espírito que o pão se transforma no corpo de Cristo!), no momento da comunhão é Cristo que, vindo a nós, doa-nos o Espírito Santo.

Santo Irineu (finalmente Doutor da Igreja!) diz que o Espírito Santo é “a nossa mesma comunhão com Cristo”[7]. Na comunhão, Jesus vem a nós como aquele que doa o Espírito. Não como aquele que um dia, há muito tempo, deu o Espírito, mas como aqueles que agora, consumado o seu sacrifício incruento sobre o altar, de novo, “entrega o Espírito” (cf. Jo 19, 30). A Eucaristia não é apenas a Páscoa diária; é também Pentecostes diário!

A comunhão uns com os outros

Destas alturas vertiginosas, voltemos agora à terra e passemos à segunda dimensão da comunhão eucarística: a comunhão com o corpo de Cristo que é a Igreja. Recordemos a palavra do Apóstolo: “Porque há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão”.

Desenvolvendo um pensamento já esboçado na Didaké, Santo Agostinho vê uma analogia no modo em que se formam os dois corpos de Cristo: o eucarístico e o eclesial. No caso da Eucaristia, temos o grão de trigo primeiramente lançado nas colinas que, debulhado, moído, misturado na água e cozido ao fogo, torna-se o pão que chega sobre o altar; no caso da Igreja, temos a multidão das pessoas que, reunidas pela pregação evangélica, moídas pelos jejuns e pela penitência, misturadas na água do batismo e cozidas ao fogo do Espírito, formam o corpo que é a Igreja[8].

Imediatamente, vem ao nosso encontro, a este propósito, a palavra de Cristo: “Se, portanto, levares a tua oferenda ao altar, te lembrares de que teu irmão tem algo contra ti, deixa a tua oferenda lá diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão e, então, volta para apresentar a tua oferenda” (Mt 5,23-24). Se você vai receber a comunhão, mas ofendeu um irmão e não se reconciliou, você se assemelha – dizia ainda Santo Agostinho ao povo – a alguém que vê chegar um amigo, o qual não via há anos. Você corre para encontrá-lo, você se levanta na ponta dos pés para beijar sua fronte… Mas, ao fazer este gesto, não se dá conta de que lhe está pisando os pés com calçados cheios de pregos[9]. Os irmãos e irmãs são os pés de Jesus que ainda caminha sobre a terra

Comunhão com os pobres

Isto vale, de modo especial, em relação aos pobres, aos aflitos e marginalizados. Aquele que disse sobre o pão: “Isto é o meu corpo”, disse também sobre o pobre. Disse-o quando, falando do que tiver sido feito para o faminto, o sedento, o preso e o nu, declarou solenemente: “Foi a mim que o fizestes!”. É como dizer: “Estava com fome, com sede, eu era o forasteiro, o doente, o prisioneiro” (cf. Mt 25,35ss). Já recordei outras vezes o momento em que esta verdade quase explodiu dentro de mim. Eu estava em missão em um país muito pobre. Caminhando pelas ruas da capital, eu via por todo lado crianças cobertas por farrapos sujos, que corriam atrás do caminhão de lixo para procurar algo para comer. Em um certo momento, era como se Jesus me dissesse interiormente: “Olha bem: aquilo é o meu corpo!”. Foi de tirar o fôlego.

A irmã do grande filósofo cristão Blaise Pascal relata o seguinte fato sobre seu irmão. Em sua última enfermidade, não conseguia reter nada do que comia e, por isso, não lhe permitiram receber o viático, que pedia insistentemente. Então disse: “Se não podem me dar a Eucaristia, deixem pelo menos que entre um pobre em meu quarto. Se não posso comungar a Cabeça, quero ao menos comungar com o seu corpo”[10].

O único impedimento para receber a comunhão que São Paulo menciona explicitamente é o fato de que, na assembleia, “um passa fome e outro se embriaga”: “De fato, quando vos reunis, não é para comer a ceia do Senhor, pois cada um se apressa em comer a sua própria ceia e, enquanto um passa fome, o outro se embriaga” (1Cor 11,20-21). Dizer “isto não é comer a ceia do Senhor” é como dizer: a sua não é mais uma verdadeira Eucaristia! É uma afirmação forte, também de um ponto de vista teológico, à qual talvez não prestemos bastante atenção.

Hoje em dia, a situação em que alguém passa fome e outro desperdiça comida não é mais um problema local, mas mundial. Não pode haver nada em comum entre a ceia do Senhor e o almoço do homem rico, onde o patrão tem um abundante banquete, ignorando o pobre que está fora da porta (cf. Lc 16,19ss). A preocupação de compartilhar o que se tem com quem necessita, próximos e distantes, deve ser parte integrante de nossa vida eucarística.

Não há ninguém que, querendo, não possa, durante a semana, cumprir um daqueles gestos de que fala Jesus: “Foi a mim que o fizestes”. Compartilhar não significa simplesmente “dar algo”: pão, roupas, hospitalidade; significa também visitar alguém: um prisioneiro, um doente, um idoso solitário. Não é dar apenas do próprio dinheiro, mas também do próprio tempo. O pobre e o sofredor precisam de solidariedade e amor, não menos do que de pão e roupas, sobretudo neste tempo de isolamento imposto pela pandemia.

Jesus disse: “Os pobres sempre tendes convosco, mas a mim não tereis sempre” (Mt 26,11). Isto é verdade também no sentido de que nem sempre podemos receber o corpo de Cristo na Eucaristia e, mesmo quando o recebemos, isto dura apenas alguns minutos, enquanto podemos sempre recebê-lo nos pobres. Aqui, não há limites, é necessário apenas que o queiramos. Os pobres estão sempre ao nosso alcance. Cada vez que encontramos alguém que sofre, especialmente se se trata de certas formas extremas de sofrimento, se estivermos atentos, ouviremos, com os ouvidos da fé, a palavra de Cristo: “Isto é o meu corpo!”.

Concluo com uma pequena história que li em algum lugar. Um homem vê uma menina desnutrida, descalça e tremendo de frio, e brada a Deus, quase com raiva: “Ó Deus, por que não fazes algo por aquela menina?”. Deus lhe responde: “Claro que fiz algo por aquela menina: eu te fiz!

Que Deus nos ajude a recordar disso no momento certo.

Porfsweb

Pierre Goursat e seus irmãos e irmãs!

Na passada sexta-feira, solenidade da Anunciação, foi também o dia em que celebrámos a nossa Comunidade – «a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será “Emanuel”, porque Deus está conosco» – é uma alegria compartilhar convosco este novo site: Pierre Goursat e seus irmãos e irmãs! (por enquanto apenas em inglês, francês e alemão).

https://www.pierregoursat.com/en/

Porfsweb

Texto da Consagração da Rússia e da Ucrânia e da Humanidade ao Imaculado Coração de Maria – 25 de março de 2022

Texto Oficial da Consagração da Rússia e da Ucrânia e da Humanidade ao Imaculado Coração de Maria – 25 de março de 2022

Ó Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe,
recorremos a Vós nesta hora de tribulação.

Vós sois Mãe, amais-nos e conheceis-nos:
de quanto temos no coração,
nada Vos é oculto.

Mãe de misericórdia,
muitas vezes experimentamos
a vossa ternura providente,
a vossa presença que faz voltar a paz,
porque sempre nos guiais para Jesus, Príncipe da paz.

Mas perdemos o caminho da paz.
Esquecemos a lição
das tragédias do século passado,
o sacrifício de milhões de mortos
nas guerras mundiais.
Descuidamos os compromissos assumidos
como Comunidade das Nações
e estamos a atraiçoar
os sonhos de paz dos povos
e as esperanças dos jovens.
Adoecemos de ganância,
fechamo-nos em interesses nacionalistas,
deixamo-nos ressequir pela indiferença
e paralisar pelo egoísmo.

Preferimos ignorar Deus,
conviver com as nossas falsidades,
alimentar a agressividade,
suprimir vidas e acumular armas,
esquecendo-nos que somos guardiões
do nosso próximo e da própria casa comum.

Dilaceramos com a guerra
o jardim da Terra,
ferimos com o pecado
o coração do nosso Pai,
que nos quer irmãos e irmãs.
Tornamo-nos indiferentes a todos e a tudo, exceto a nós mesmos.
E, com vergonha, dizemos:
perdoai-nos, Senhor!

Na miséria do pecado,
das nossas fadigas e fragilidades,
no mistério de iniquidade do mal e da guerra,
Vós, Mãe Santa,
lembrai-nos que Deus não nos abandona,
mas continua a olhar-nos com amor,
desejoso de nos perdoar
e levantar novamente.

Foi Ele que Vos deu a nós
e colocou no vosso Imaculado Coração
um refúgio para a Igreja e para a humanidade.

Por bondade divina,
estais connosco e conduzis-nos com ternura
mesmo nos transes
mais apertados da história.

Por isso recorremos a Vós,
batemos à porta do vosso Coração,
nós os vossos queridos filhos
que não Vos cansais
de visitar em todo o tempo e convidar à conversão.

Nesta hora escura,
vinde socorrer-nos e consolar-nos.
Repeti a cada um de nós:
«Não estou porventura aqui Eu,
que sou tua mãe?»
Vós sabeis como desfazer os emaranhados do nosso coração
e desatar os nós do nosso tempo.

Repomos a nossa confiança em Vós.
Temos a certeza de que Vós,
especialmente no momento da prova,
não desprezais as nossas súplicas
e vindes em nosso auxílio.

Assim fizestes em Caná da Galileia,
quando apressastes
a hora da intervenção de Jesus
e introduzistes no mundo o seu primeiro sinal.
Quando a festa se mudara em tristeza,
dissestes-Lhe: «Não têm vinho!» (Jo 2, 3).

Ó Mãe, repeti-o mais uma vez a Deus,
porque hoje esgotamos o vinho da esperança,
desvaneceu-se a alegria,
diluiu-se a fraternidade.

Perdemos a humanidade,
malbaratamos a paz.
Tornamo-nos capazes
de toda a violência e destruição.
Temos necessidade urgente
da vossa intervenção materna.

Por isso acolhei, ó Mãe,
esta nossa súplica:
Vós, Estrela do mar,
não nos deixeis naufragar
na tempestade da guerra;
Vós, arca da nova aliança,
inspirai projetos e caminhos de reconciliação;
Vós, «terra do Céu»,
trazei de volta ao mundo
a concórdia de Deus;
Apagai o ódio,
acalmai a vingança,
ensinai-nos o perdão;
Libertai-nos da guerra,
preservai o mundo da ameaça nuclear;
Rainha do Rosário,
despertai em nós
a necessidade de rezar e amar;
Rainha da família humana,
mostrai aos povos
o caminho da fraternidade;
Rainha da paz,
alcançai a paz para o mundo.

O vosso pranto, ó Mãe,
comova os nossos corações endurecidos.
As lágrimas, que por nós derramastes,
façam reflorescer este vale
que o nosso ódio secou.

E, enquanto o rumor das armas não se cala,
que a vossa oração
nos predisponha para a paz.
As vossas mãos maternas
acariciem quantos sofrem
e fogem sob o peso das bombas.
O vosso abraço materno
console quantos são obrigados
a deixar as suas casas e o seu país.
Que o vosso doloroso Coração
nos mova à compaixão
e estimule a abrir as portas
e cuidar da humanidade
ferida e descartada.

Santa Mãe de Deus,
enquanto estáveis ao pé da cruz,
Jesus, ao ver o discípulo junto de Vós, disse-Vos:
«Eis o teu filho!» (Jo 19, 26).

Assim Vos confiou cada um de nós.
Depois disse ao discípulo,
a cada um de nós:
«Eis a tua mãe!» (19, 27).
Mãe, agora queremos acolher-Vos
na nossa vida e na nossa história.

Nesta hora, a humanidade,
exausta e transtornada,
está ao pé da cruz convosco.
E tem necessidade de se confiar a Vós,
de se consagrar a Cristo por vosso intermédio.

O povo ucraniano e o povo russo,
que Vos veneram com amor,
recorrem a Vós,
enquanto o vosso Coração
palpita por eles
e por todos os povos ceifados pela guerra,
a fome, a injustiça e a miséria.

Por isso nós, ó Mãe de Deus e nossa,
solenemente confiamos
e consagramos ao vosso Imaculado Coração
nós mesmos,
a Igreja e a humanidade inteira,
de modo especial a Rússia e a Ucrânia.

Acolhei este nosso ato
que realizamos com confiança e amor,
fazei que cesse a guerra,
providenciai ao mundo a paz.

O sim que brotou do vosso Coração
abriu as portas da história ao Príncipe da Paz;
confiamos que mais uma vez,
por meio do vosso Coração, virá a paz.

Assim a Vós consagramos
o futuro da família humana inteira,
as necessidades e os anseios dos povos,
as angústias e as esperanças do mundo.

Por vosso intermédio,
derrame-se sobre a Terra
a Misericórdia divina
e o doce palpitar da paz
volte a marcar as nossas jornadas.

Mulher do sim,
sobre Quem desceu o Espírito Santo,
trazei de volta ao nosso meio
a harmonia de Deus.

Dessedentai a aridez do nosso coração,
Vós que «sois fonte viva de esperança».

Tecestes a humanidade para Jesus,
fazei de nós artesãos de comunhão.

Caminhastes pelas nossas estradas,
guiai-nos pelas sendas da paz.

Ámen.

Porfsweb

Comunidade Emanuel procura Gestor de Projecto – JMJ2023

A Comunidade Emanuel (Associação Internacional de Fiéis) procura Gestor de Projeto para assistir e reportar ao Coordenador Internacional da Emanuel Jovens na preparação da “JMJ com a Comunidade Emanuel”. É um projeto que se prevê envolver mais de 4.500 participantes de todo o mundo, e que consiste na participação na JMJ em Lisboa (1 a 6 de agosto de 2023) e num Fórum Internacional de Jovens a realizar em Coimbra nos 4 dias precedentes.

A responsabilidade central deste gestor será, fundamentalmente, a de assegurar organização fluída deste evento, pelo contacto entre as várias equipas ao serviço do mesmo, centralizar as inscrições, e prover à interação, articulação e encontros regulares entre os vários atores (internacionais, locais e nacionais) envolvidos no projeto.

Mais informações: https://bit.ly/3L1eYRb

Porfsweb

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA DE 2022

«Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos»

(Gal 6, 9-10a)

Queridos irmãos e irmãs!

A Quaresma é um tempo favorável de renovação pessoal e comunitária que nos conduz à Páscoa de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Aproveitemos o caminho quaresmal de 2022 para refletir sobre a exortação de São Paulo aos Gálatas: «Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo (kairós), pratiquemos o bem para com todos» (Gal 6, 9-10a).

Sementeira e colheita

Neste trecho, o Apóstolo evoca a sementeira e a colheita, uma imagem que Jesus muito prezava (cf. Mt 13). São Paulo fala-nos dum kairós: um tempo propício para semear o bem tendo em vista uma colheita. Qual poderá ser para nós este tempo favorável? Certamente é a Quaresma, mas éo também a nossa inteira existência terrena, de que a Quaresma constitui de certa forma uma imagem. Muitas vezes, na nossa vida, prevalecem a ganância e a soberba, o anseio de possuir, acumular e consumir, como se vê no homem insensato da parábola evangélica, que considerava assegurada e feliz a sua vida pela grande colheita acumulada nos seus celeiros (cf. Lc 12, 16-21). A Quaresma convida-nos à conversão, a mudar mentalidade, de tal modo que a vida encontre a sua verdade e beleza menos no possuir do que no doar, menos no acumular do que no semear o bem e partilhá-lo.

O primeiro agricultor é o próprio Deus, que generosamente «continua a espalhar sementes de bem na humanidade» (Enc. Fratelli tutti, 54). Durante a Quaresma, somos chamados a responder ao dom de Deus, acolhendo a sua Palavra «viva e eficaz» (Heb 4, 12). A escuta assídua da Palavra de Deus faz maturar uma pronta docilidade à sua ação (cf. Tg 1, 19.21), que torna fecunda a nossa vida. E se isto já é motivo para nos alegrarmos, maior motivo ainda nos vem da chamada para sermos «cooperadores de Deus» (1 Cor 3, 9), aproveitando o tempo presente (cf. Ef 5, 16) para semearmos, também nós, praticando o bem. Esta chamada para semear o bem deve ser vista, não como um peso, mas como uma graça pela qual o Criador nos quer ativamente unidos à sua fecunda magnanimidade.

E a colheita? Porventura não se faz toda a sementeira a pensar na colheita? Certamente; o laço estreito entre a sementeira e a colheita é reafirmado pelo próprio São Paulo, quando escreve: «Quem pouco semeia, também pouco há de colher; mas quem semeia com generosidade, com generosidade também colherá» (2 Cor 9, 6). Mas de que colheita se trata? Um primeiro fruto do bem semeado, temo-lo em nós mesmos e nas nossas relações diárias, incluindo os gestos mais insignificantes de bondade. Em Deus, nenhum ato de amor, por mais pequeno que seja, e nenhuma das nossas «generosas fadigas» se perde (cf. Exort. Evangelii gaudium, 279). Tal como a árvore se reconhece pelos frutos (cf. Mt 7, 16.20), assim também a vida repleta de obras boas é luminosa (cf. Mt 5, 14-16) e difunde pelo mundo o perfume de Cristo (cf. 2 Cor 2, 15). Servir a Deus, livres do pecado, faz maturar frutos de santificação para a salvação de todos (cf. Rm 6, 22).

Na realidade, só nos é concedido ver uma pequena parte do fruto daquilo que semeamos, pois, segundo o dito evangélico, «um é o que semeia e outro o que ceifa» (Jo 4, 37). É precisamente semeando para o bem do próximo que participamos na magnanimidade de Deus: constitui «grande nobreza ser capaz de desencadear processos cujos frutos serão colhidos por outros, com a esperança colocada na força secreta do bem que se semeia» (Enc. Fratelli tutti, 196).
Semear o bem para os outros liberta-nos das lógicas mesquinhas do lucro pessoal e confere à nossa atividade a respiração ampla da gratuidade, inserindo-nos no horizonte maravilhoso dos desígnios benfazejos de Deus.

A Palavra de Deus alarga e eleva ainda mais a nossa perspetiva, anunciando-nos que a colheita mais autêntica é a escatológica, a do último dia, do dia sem ocaso. O fruto perfeito da nossa vida e das nossas ações é o «fruto em ordem à vida eterna» (Jo 4, 36), que será o nosso «tesouro no céu» (Lc 18, 22; cf. 12, 33). O próprio Jesus, para exprimir o mistério da sua morte e ressurreição, usa a imagem da semente que morre na terra e frutifica (cf. Jo 12, 24); e São Paulo retoma-a para falar da ressurreição do nosso corpo: «semeado corrutível, o corpo é ressuscitado incorrutível; semeado na desonra, é ressuscitado na glória; semeado na fraqueza, é ressuscitado cheio de força; semeado corpo terreno, é ressuscitado corpo espiritual» (1 Cor 15, 42-44). Esta esperança é a grande luz que Cristo ressuscitado traz ao mundo: «Se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram» (1 Cor 15, 19-20), para que quantos estiverem intimamente unidos a Ele no amor, «por uma morte idêntica à Sua» (Rm 6, 5), também estejam unidos à sua ressurreição para a vida eterna (cf. Jo 5, 29): «então os justos resplandecerão como o sol, no reino do seu Pai» (Mt 13, 43).

«Não nos cansemos de fazer o bem»

A ressurreição de Cristo anima as esperanças terrenas com a «grande esperança» da vida eterna e introduz, já no tempo presente, o germe da salvação (cf. Bento XVI, Spe salvi, 3; 7). Perante a amarga desilusão por tantos sonhos desfeitos, a inquietação com os desafios a enfrentar, o desconsolo pela pobreza de meios à disposição, a tentação é fechar-se num egoísmo individualista e, à vista dos sofrimentos alheios, refugiar-se na indiferença. Com efeito, mesmo os recursos melhores conhecem limitações: «Até os adolescentes se cansam, se fatigam, e os jovens tropeçam e vacilam» (Is 40, 30). Deus, porém, «dá forças ao cansado e enche de vigor o fraco. (…) Aqueles que confiam no Senhor, renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer» (Is 40, 29.31). A Quaresma chama-nos a repor a nossa fé e esperança no Senhor (cf. 1 Ped 1, 21), pois só com o olhar fixo em Jesus Cristo ressuscitado (cf. Heb 12, 2) é que podemos acolher a exortação do Apóstolo: «Não nos cansemos de fazer o bem» (Gal 6, 9).

Não nos cansemos de rezar. Jesus ensinou que é necessário «orar sempre, sem desfalecer» (Lc 18, 1). Precisamos de rezar, porque necessitamos de Deus. A ilusão de nos bastar a nós mesmos é perigosa. Se a pandemia nos fez sentir de perto a nossa fragilidade pessoal e social, permita-nos esta Quaresma experimentar o conforto da fé em Deus, sem a qual não poderemos subsistir (cf. Is 7, 9). No meio das tempestades da história, encontramo-nos todos no mesmo barco, pelo que ninguém se salva sozinho [2]; mas sobretudo ninguém se salva sem Deus, porque só o mistério pascal de Jesus Cristo nos dá a vitória sobre as vagas tenebrosas da morte.

A fé não nos preserva das tribulações da vida, mas permite atravessá-las unidos a Deus em Cristo, com a grande esperança que não desilude e cujo penhor é o amor que Deus derramou nos nossos corações por meio do Espírito Santo (cf. Rm 5, 1-5).

Não nos cansemos de extirpar o mal da nossa vida. Possa o jejum corporal, a que nos chama a Quaresma, fortalecer o nosso espírito para o combate contra o pecado. Não nos cansemos de pedir perdão no sacramento da Penitência e Reconciliação, sabendo que Deus nunca Se cansa de perdoar [3]. Não nos cansemos de combater a concupiscência, fragilidade esta que inclina para o egoísmo e todo o mal, encontrando no decurso dos séculos vias diferentes para fazer precipitar o homem no pecado (cf. Enc. Fratelli tutti, 166). Uma destas vias é a dependência dos meios de comunicação digitais, que empobrece as relações humanas. A Quaresma é tempo propício para contrastar estas ciladas, cultivando ao contrário uma comunicação humana mais integral (cf. ibid., 43), feita de «encontros reais» ( ibid., 50), face a face.

Não nos cansemos de fazer o bem, através duma operosa caridade para com o próximo. Durante esta Quaresma, exercitemo-nos na prática da esmola, dando com alegria (cf. 2 Cor 9, 7). Deus, «que dá a semente ao semeador e o pão em alimento» (2 Cor 9, 10), provê a cada um de nós os recursos necessários para nos nutrirmos e ainda para sermos generosos na prática do bem para com os outros. Se é verdade que toda a nossa vida é tempo para semear o bem, aproveitemos de modo particular esta Quaresma para cuidar de quem está próximo de nós, para nos aproximarmos dos irmãos e irmãs que se encontram feridos na margem da estrada da vida (cf. Lc 10, 25-37). A Quaresma é tempo propício para procurar, e não evitar, quem passa necessidade; para chamar, e não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, e não abandonar, quem sofre a solidão. Acolhamos o apelo a praticar o bem para com todos, reservando tempo para amar os mais pequenos e indefesos, os abandonados e desprezados, os discriminados e marginalizados (cf. Enc. Fratelli tutti, 193).

«A seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido»

Cada ano, a Quaresma vem recordar-nos que «o bem, como aliás o amor, a justiça e a solidariedade não se alcançam duma vez para sempre; hão de ser conquistados cada dia» (ibid., 11). Por conseguinte peçamos a Deus a constância paciente do agricultor (cf. Tg 5, 7), para não desistir na prática do bem, um passo de cada vez. Quem cai, estenda a mão ao Pai que nos levanta sempre. Quem se extraviou, enganado pelas seduções do maligno, não demore a voltar para Deus, que «é generoso em perdoar» (Is 55, 7). Neste tempo de conversão, buscando apoio na graça divina e na comunhão da Igreja, não nos cansemos de semear o bem. O jejum prepara o terreno, a oração rega, a caridade fecunda-o. Na fé, temos a certeza de que «a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido», e obteremos, com o dom da perseverança, os bens prometidos (cf. Heb 10, 36) para salvação nossa e do próximo (cf. 1 Tm 4, 16).

Praticando o amor fraterno para com todos, estamos unidos a Cristo, que deu a sua vida por nós (cf. 2 Cor 5, 14-15), e saboreamos desde já a alegria do Reino dos Céus, quando Deus for «tudo em todos» (1 Cor 15, 28).

A Virgem Maria, em cujo ventre germinou o Salvador e que guardava todas as coisas «ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19), obtenha-nos o dom da paciência e acompanhe-nos com a sua presença materna, para que este tempo de conversão dê frutos de salvação eterna.

Francisco

Porfsweb

PELA PAZ NA UCRÂNIA

Comunicado da Conferência Episcopal Portuguesa

  1. Na audiência geral de ontem e face à iminência da guerra na Ucrânia, o Papa Francisco apelava a que se fizessem todos os esforços para que se encontrem caminhos de paz. Convidava-nos também à oração pela paz, propondo que o dia 2 de março fosse assumido por todos como um Dia de Jejum pela Paz e, para os crentes, um dia de jejum e oração:
    «Tenho uma grande dor no coração pelo agravamento da situação na Ucrânia. Apesar dos esforços diplomáticos das últimas semanas, estão a abrir-se cenários cada vez mais alarmantes. Como eu, muitas pessoas em todo o mundo estão a sentir angústia e preocupação. Uma vez mais a paz de todos é ameaçada por interesses de alguns. Gostaria de apelar aos responsáveis políticos para que examinem seriamente as suas consciências perante Deus, que é Deus da paz e não da guerra; que é Pai de todos e não apenas de alguns, que quer que sejamos irmãos e não inimigos. Peço a todas as partes envolvidas para que se abstenham de qualquer ação que possa causar ainda mais sofrimento às populações, desestabilizando a convivência entre as nações e desacreditando o direito internacional.
    E agora gostaria de apelar a todos, crentes e não-crentes. Jesus ensinou-nos que à diabólica insensatez da violência se responde com as armas de Deus, com a oração e o jejum. Convido todos a fazer no próximo dia 2 de março, Quarta-feira de Cinzas, um Dia de Jejum pela Paz. Encorajo de modo especial os crentes a dedicarem-se intensamente nesse dia à oração e ao jejum. Que a Rainha da Paz preserve o mundo da loucura da guerra».
  2. Infelizmente, a guerra teve início esta madrugada, com a invasão da Ucrânia pela Rússia. A Conferência Episcopal Portuguesa, em sintonia com o Santo Padre e com o apelo pela Paz das Conferências Episcopais da Europa, condena veementemente a guerra na Ucrânia e propõe que todas as pessoas, comunidades e instituições da Igreja rezem pela paz na região, assumindo o dia 2 de março, Quarta-feira de Cinzas, como um Dia de Jejum e Oração pela Paz na Ucrânia.
  3. A Conferência Episcopal manifesta a sua solidariedade para com a população da Ucrânia e, em particular, para com a numerosa Comunidade Ucraniana em Portugal, desejando que este tempo de angústia, sofrimento e guerra seja rapidamente ultrapassado e se restabeleça a paz e a prática do bem para todos, como nos pede o Santo Padre na mensagem da Quaresma hoje divulgada. Apela ainda a que haja uma partilha efetiva para com a Igreja na Ucrânia, nomeadamente através das Cáritas e de outras instituições.

Lisboa, 24 de fevereiro de 2022
Secretariado Geral da CEP

Porfsweb

Programa da rota da Comunidade Emanuel para as JMJ2023

📢WYD 2023 com a Comunidade Emanuel📢

Finalmente podemos anunciar o nosso programa oficial para a JMJ de 2023 em Portugal!

Preparados? Aqui vai :

  • Forum Internacional de Jovens em Coimbra : 27-31 de Julho
  • Peregrinação de um dia ao Santuário de Fátima
  • Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa : 1-6 de Agosto

Interessado em participar? Entre em contato com o líder Juvenil da sua zona / país ou contate-nos por e-mail: contact.jmj@emmanuelco.org

Em Portugal, poderá contactar: