O fundador: Pierre Goursat

Todos os que conheceram Pierre Goursat, fundador da Comunidade Emanuel, dirão com certeza que ele foi um contemplativo.
Mas acrescentarão: ” Com ele, temos que rever a noção de “contemplativo”, descobrir o seu itinerário, aprender a ver Deus no meio do mundo, Emanuel, o Deus connosco.

A vocação de Pierre foi ser um adorador no meio do mundo. A chave que ele nos dá para vivermos a contemplação é a sua própria vida.
Todos os dias, passava uma hora diante do Santíssimo Sacramento, ou rezava na cama quando os seus múltiplos achaques o impediam de sair. Ao longo dos anos, esta hora tornou-se horas. Especialmente na Péniche du Mont Thabor, no oratório à popa do barco, passava uma parte da noite em adoração. Não havia nenhuma manifestação particular, mas a atitude que tomava mostrava uma grande fé, uma grande confiança, e, mais que tudo, o amor por Jesus. Via-se nele um ser todo virado para o seu Deus. No dia do seu funeral, Monsenhor de Monléon disse: “Consumiu-se na adoração”.
Nesta fonte da adoração, Pierre bebia a sua visão de Deus e a visão dos homens à luz de Deus. À adoração ele juntava o louvor.
Muitas vezes, a algum irmão que lhe vinha confiar as suas dificuldades, dizia, no fim da conversa: “O louvor, o louvor”. Para ele no louvor o nosso coração vira-se para Deus e vemos as coisas à luz de Deus na Esperança.

O carácter contemplativo da sua acção (e que acção!) radicava por fim na confiança e no abandono ao Espírito Santo. “Sou como que o condutor de um carro, preso ao assento, mas é outro quem conduz – e ele vai cada vez mais depressa. O condutor é o Espírito Santo”.

O que Pierre propunha para Emanuel era uma “mística” que consistia em viver e trabalhar no mundo, evangelizar, servir os pobres ou os doentes, unido o mais possível ao seu Deus. O meio para esta união é a adoração e o louvor.

De si mesmo e da sua vida de oração, Pierre não dizia nada: ” Não consigo. Há anos que sou absolutamente incapaz de me examinar e de olhar para mim”. A sua existência espiritual era fundamentalmente simples. A sua relação com Deus estava para além de qualquer fenómeno. Vivia uma vida de união, no estilo de S. Teresinha, completamente despojada e centrada no essencial: a presença e o amor de Jesus.

Pierre dizia também que a adoração levava directamente à compaixão. Na adoração, dizia, somos tentados a olhar para nós, a virar-nos para os nossos problemas. Mas Deus dá-nos então um olhar novo sobre os outros, que é o seu próprio olhar. É um olhar de compreensão pelo sofrimento alheio e pelas dificuldades dos homens, sendo o maior sofrimento não conhecer o amor. É por isso que a compaixão, nascida da adoração, conduz à evangelização.
Assim, a adoração não o separava da vida dos homens, não o isolava. Pelo contrário, permitia-lhe acolher no seu coração o grito do mundo, compreender como se pode aliviar as suas misérias e ter forças para tal.
Pierre Goursat não nos deixou nenhum tratado sobre a contemplação. Mas foi um místico e um contemplativo, passando pouco a pouco, sem ele próprio as poder definir, as etapas da união da sua alma com o Senhor.

Tinha entrado na união habitual com Deus, disse um religioso que o conheceu bem, e os sinais não enganavam: uma grande sabedoria, um hábito de se referir a Deus em tudo, o abandono à Divina Providência, uma espécie de doçura divina, um espírito de compaixão fraterna, na certeza e na paz.
Era um santo! Tinha-se tornado quase indiferente à sua obra que era cada vez mais a obra de Deus.

Bernard Peyrous e Hervé-Marie Catta